Reinventar os sindicatos é preciso
Mesa do Curso Anual do NPC, realizada dia 22/11, refletiu a realidade da classe trabalhadora do século XXI
Com a participação do economista Marcio Pochmann e do professor universitário Reginaldo Moraes, a segunda Mesa do 23º Curso anual do NPC discutiu as características da classe trabalhadora do século XXI e como fazer para atrair os trabalhadores para a luta dos sindicatos e movimentos sociais.
Os autores defenderam que o perfil da classe trabalhadora está diretamente ligado às novas relações da sociedade. Uma realidade onde a indústria deixa de ser a maior aglutinadora de trabalhadores. Esse lugar é agora do terceiro setor, com pequenos empresários, profissionais liberais e uma gama infinita de funções. Para se ter uma ideia, a participação da indústria hoje na sociedade é menor do que em 1910.
No entanto, a maioria dos sindicatos insiste em conduzir suas estratégias no modelo antigo, como se todos vivessem a mesma realidade das fábricas. Uma falha que, para o professor Reginaldo Moraes, pode ser fatal. “Ou eles – os sindicatos – se transformam para organizar a classe trabalhadora, ou estão fadados ao fracasso”.
Seguindo essa linha, Marcio Pochmann complementou. “Quem mais entende do universo dos trabalhadores hoje não são os sindicatos, não são as universidades. É o crime organizado e as igrejas neopentecostais”. O economista destacou que é esse conhecimento que faz com que esses setores se fortaleçam a cada dia.
Mas e quais seriam essas necessidades? Basicamente a proximidade. As igrejas conseguem estar em cada quarteirão, falando de forma simples e direta com as pessoas e oferecendo serviços pontuais. É assim também quando o crime organizado garante alguns serviços à população, principalmente das periferias.

Pobre de direita? – A fala dos palestrantes permitiu ainda desconstruir a ideia de que a população tem adotado uma ideologia de direita. Para o professor Reginaldo, o problema é outro. “As pessoas não optaram por outra política, optaram por não fazer política”. Para ele essa é uma vitória da direita, pois a esquerda esteve no poder e não investiu na politização.
As pessoas levam a vida sem fazer qualquer reflexão política. Elas têm em mente apenas a própria vida. Isso faz com que não haja parâmetros para a crítica, como exemplificou Pochmann. “No Brasil temos 14 milhões de terceirizados. Para 70% deles essa foi a primeira experiência profissional. Para essas cabeças terceirização não significa precarização, mas sim ascensão”.
O que fazer? – Mas Pochmann e Moraes insistiram em não desanimar a plateia. “Algumas desgraças existem, outras eles – a elite dominante – querem que a gente exagere”, disse Reginaldo. Já Pochmann entende que é tudo uma questão de organização. “É preciso ter um olhar estratégico. Às vezes é necessário fazer menos lutas, mas caprichar naquilo que priorizamos”.
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Por Marcio Mittelbach
Terra Sem Males
Fotos: Núcleo Piratininga de Comunicação
Teriam o vídeo dessa palestra?
Seria muito importante para divulgação ampliada.